domingo, 29 de novembro de 2015

Capítulo 7 Bônus

Dormi feito uma pedra.

Acordo com o despertador do celular aos berros. Desligo o troço no soco e arrasto-me para o banheiro. Ajeito as madeixas douradas atrás das orelhas e jogo montes de água no rosto. Meus olhos estão mais cinzentos que de costume, um tanto opacos até.
Dou um up no visual, visto uma roupa confortável e tomo o rumo do gazebo. Bolinhos de chuva e chá de camomila são tudo de que preciso para me sentir confortada nessa manhã preguiçosa.

Vejo que poucos hóspedes acordaram e meus olhos vagueiam, buscando uma mesa isolada. Arrasto a cadeira e me sento, jogando a cabeça para trás, contemplando as copas das árvores através da cobertura de policarbonato transparente.

Ainda não decidi o que fazer da vida. Ajudar meus avós na pousada é uma possibilidade interessante e meu pai ofereceu um trabalho temporário na área de propaganda lá no hospital.Sua intenção é repaginar o visual dos materiais impressos, bem como a logomarca já ultrapassada. É o tipo de trabalho que faço com as mãos nas costas. Ainda não aceitei, mas o farei.Preciso de alguns dias de descanso e também para dar um jeito no meu quarto zoado. As caixas de sapatos estão espalhadas pelo chão e socadas dentro do guarda-roupas de qualquer maneira. As roupas ainda estão nas malas e não encontrei minha escova de dentes até agora. Por sorte, sempre tenho uma de reserva dentro da bolsa.

Hoje tirarei o dia para dar um rolê pelas ruas da cidade. Já não odeio Paraty como antes, afinal, a cidade não teve nada a ver com a decisão tresloucada da minha mãe e a grande merda que fiz há dez anos.
Uma imagem toma conta da minha mente e tenho um sobressalto, com o coração aos pulos. A boca fica seca e mordo o lábio trêmulo. Tudo nesse lugar transpira o passado, ecoa as burradas e mágoas ainda encrustadas no meu espírito.
Estou entretida com a imagem, aquele rosto lindo transfigurado pelo ódio de ter sido traído. Meu avô senta-se à mesa e só me dou conta de sua presença quando pigarreia e eu finalmente aporto em terra firme.

— Dormiu bem? – ele pergunta, depositando uma cesta de bolinhos de chuva na minha frente.

— Como há muito tempo não acontecia. – afirmo. – A pousada está tranquila demais, não acha?

— Graças a Deus! – vovô ergue as mãos para os céus. – Não viu esse lugar dez dias atrás.

— O que houve?

— Em que mundo você vive, Demetria? Sediamos a FLIP, está lembrada?

Que gafe a minha. A FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty – é só um dos mais respeitados eventos literários do mundo. São cinco dias ultra culturais que incluem debates, shows, exposições, oficinas e conta com a presença de grandes nomes da literatura mundial.

— Putz, vô, me esqueci completamente. – bato com a mão na testa. – A cidade ficou muito lotada?

— Impossível de caminhar. Tinha gente saindo pelo ladrão. – vovô ajeita os óculos na ponta do nariz. – Ainda assim, valeu a pena. Era possível sentir o cheiro da cultura e dos livros no ar. Sabe o quanto amo o aroma dos livros, não sabe?

— Sua biblioteca que o diga. – meu avô mantém uma biblioteca invejável em um dos anexos da pousada. Os turistas mais intelectuais piram no número de volumes raros e nas primeiras publicações de obras que nem são mais editadas.

— Sua avó me deu uma folga e até consegui alguns autógrafos.

— Quantos livros comprou dessa vez? – mordo um bolinho de chuva e reviro os olhos, em êxtase. — Não foram muitos. – vovô franze a testa e balança a cabeça.

— Cinquenta e oito. – vovó chega por trás e revela. – Seu avô é tarado por livros assim como você é por sapatos.

— Então essa FLIP foi como cinco dias no paraíso, é isso mesmo? – pergunto, aos risos.

— Paraíso para o seu avô, porque eu fiquei descadeirada! – vovó se inflama e completa minha cestinha com mais alguns bolinhos de chuva fresquinhos.

Os dois começam a discutir e me calo, só observando e beliscando as iguarias recheadas de celulite.Minha avó é dessas senhoras cheias de energia, que deixa no chinelo muitas menininhas de vinte anos. Os cabelos batidos na nuca são sempre tingidos de dourado, sustentando uma camada de laquê que mantém os fios tão rígidos quanto uma cerca de arame farpado.Ela é baixa, esguia e se orgulha de suas rugas, dizendo que as marcas do tempo serão muito úteis quando chegar ao Paraíso. Minha avó acredita que por lá exista uma fila especial para idosos enrugados. Não acho que a entrada para o céu esteja bombando desse jeito, mas enfim, Melhor não discutir.Meu avô é um gordinho gostoso, com os cabelos tão branquinhos quanto flocos de neve. Os óculos de aros vermelhos lhe conferem um ar cult e divertido. Ele adora calças de alfaiataria e dificilmente o vejo usando outra vestimenta. Bermuda? Nem pensar!

— Essa discussão entre vocês está divertidíssima, mas realmente preciso ir. – jogo um último bolinho de chuva na boca antes de me levantar.

— Onde vai? – vovô pergunta, ajeitando os óculos.

— Dar uma volta pela cidade. Estou precisando ficar a sós com minha pessoa maníaca depressiva.

Meus avós se entreolham, incertos.

— Prometo voltar viva e com todos os órgãos no lugar, está bem?

— Fique longe de encrencas. – vovô sacode o indicador na altura do meu nariz.

— Eu já disse, vô, são as encrencas que não me deixam em paz.

sábado, 28 de novembro de 2015

Capítulo 6


Eu só queria um homem para chamar de meu, alguém que não me traísse e fosse um companheiro para todo o sempre.
É pedir demais?

Após me regalar com um risoto de açafrão do além – do Espírito, para ser mais exata –, atiro-me na cama e abro a caixa de fotografias. Amo máquinas fotográficas digitais, mas odeio guardar as lembranças em pen drives ou arquivos no computador. Gosto de imprimi-las para apreciar sempre que tiver vontade.
Já passa das nove da noite e nem sinal do papai. Ele é o diretor do único hospital particular de Paraty e trabalhou por anos no setor público, como cardiologista. Ainda atende alguns pacientes, mas só em casos de urgência.
Ligo o computador e o Skype. Nauane atende com a cara amassada e veios grossos da almofada da sala se desenham em sua pele branca e cheia de sardas. Seu olhar sonolento se fixa no meu e ela boceja alto.
— Dormindo uma hora dessas? Não tem nenhuma balada boa nessa cidade hoje? – incito.

— Que nada. É ressaca mesmo. O Zé e os caras vieram para cá e tomamos todo o estoque de vinho que você deixou. Em sua homenagem, obviamente. – Nanie rebate, num tom molenga. – Eu não estava a fim de sair, sem você não tem a menor graça.

— Depois eu é que sou a rainha do Melodrama. – reviro os olhos.

— Já se instalou? Como estão seus avós? E seu pai?

— Meu quarto está uma zona, não arrumei nada ainda. Estava revendo umas fotos antigas, da época da faculdade. Bons tempos aqueles. – digo, num tom saudosista.

— Algo que valha a pena me mostrar? – Nanie dá outro bocejo longo. – Porque sério, eu estou vendo duas de você nesse momento. Preciso de um banho frio e cama.

— Lembra quando fizemos uma lista do homem perfeito? – seguro uma folha dobrada entre os dedos. – E então colocamos debaixo do colchão por um ano?

— Não vá me dizer que guardou?! – ela tem um sobressalto.

— Tanto guardei como encontrei dentro da caixa de fotografias. É hilário, eu preciso ler para você.

— Pode ser amanhã, Demi? Estou sem a menor condição. Sabe aquelas velhas surdas que entendem tudo errado? Pois é, sou eu nesse exato segundo.

O barulho da porta da frente atrai minha atenção.

— Nanie, acho que meu pai chegou. Amanhã eu ligo, tá bom?

— Mande um beijo para o seu velho e gostoso pai. Câmbio final.
                                               ≈≈≈

Meu pai é daqueles coroas atraentes, com os cabelos levemente grisalhos, barba por fazer e o corpo atlético que arranca suspiros das damas mais comportadas da sociedade.
É sobre seu peito bem trabalhado na musculação que enfio a minha cara depois de despejar toda a tralha que estava engasgada na garganta. Se não chorei no colo do meu avô, estou fazendo o dobro disso agarrada ao meu velho.Suas mãos alisam meus cabelos desgrenhados e ouço a respiração cadenciada que movimenta seu tórax para cima e para baixo. Depois de um longo tempo, ele resolve perguntar:

— Está apaixonada?

— Eu não sei, acho que sim, e tenho vontade de me suicidar por isso. – retruco.

— Você sempre teve o dedo podre para escolher namorados. Com exceção do Joseph, claro.

— Pai! – dou um salto no sofá, indignada.

— É a verdade, filha. – meu pai me encara com olhos cheios de sabedoria. – Se você só atrai esse tipo de homem, a vida está lhe dando uma chance de aprender com isso. Mas, pelo visto, você ainda não compreendeu o que é necessário para seguir em frente.

— Aprender o que com as traições? A sofrer? A me descabelar? Realmente não estou entendendo o recado. Será que a vida pode ser mais direta? – bufo e cruzo os braços, irritada.

— Isso tudo vai passar, filha, não se preocupe.

Meu pai limpa a garganta e percebo que há uma pergunta entalada, doida para ganhar voz. Já sabendo do que se trata, suspiro profundamente e deixo que ele mude o rumo da conversa.

— Tem falado com a sua mãe?

Demorou para o assunto “sua mãe” entrar em pauta, já estava até estranhando o fato. Aprumo-me e descruzo os braços, trazendo os joelhos para o peito. Falar sobre minha mãe nunca é fácil, ainda mais por não ter superado a sensação de abandono que ela deixou para trás.

— Faz um mês que não falo com ela. – revelo, num fio de voz. – Jura mesmo que não sente raiva? Nem uma pontinha?

— Raiva da sua mãe? – um breve sorriso se desenha nos lábios do meu pai. – Como eu poderia? Sua mãe é um anjo, um espírito livre e aventureiro. Eu sempre soube que um casamento ou mesmo uma filha não a segurariam por muito tempo. E outra, teve a morte dos seus avós, sempre leve isso em consideração ao julgá-la.

— Um casamento eu até posso entender, mas, poxa, ela deveria ter pensado em mim antes de sair pelo mundo em sua jornada espiritual ou sei lá como chamam isso. – rebato, levemente alterada. – E quanto a morte dos meus avós, foi apenas uma desculpa que ela encontrou.

— Não sinta raiva, isso faz mal ao coração. – papai bate em seu próprio peito.

Eu tinha doze anos quando um bando de malucos se hospedou aqui na Pousada das Margaridas. Se vestiam como hippies, falavam sobre dimensões paralelas, seres ascensionados e a busca espiritual rumo a iluminação.Não entendia bulhufas do que diziam, ainda assim eu gostava de ouvir sobre outros mundos, civilizações mais avançadas e os caminhos sagrados espalhados por todo o globo.
Assim como eu, mamãe ficou fascinada. Sempre foi interessada em tudo o que é oculto, místico, esotérico. Aliás, ela atuava como terapeuta holística e mantinha um consultório até bem frequentado no Centro Histórico de Paraty.Aplicava Reiki, cromoterapia, utilizava-se de cristais coloridos e me recordo até de uma espécie de mesa com um design bem esquisito. Com a ajuda de um pêndulo e da tal mesa, minha mãe dizia ser possível medir a energia dos chacras de seus pacientes.O fato foi que, quando os tais malucos tomaram seu rumo após quinze dias na pousada, mamãe caiu em depressão. Queria a todo o custo segui-los, sabe-se lá para Deus onde.
Meu pai ficou alucinado quando ela fez as malas. Meu avós tentaram detê-la, sem sucesso. Eu chorei horrores e me agarrei à barra de sua saia, como uma criancinha birrenta.
Nada surtiu efeito, ela estava decidida.
Depois de raspar toda a herança que seus pais haviam deixado, minha mãe partiu para Machu Picchu, no Peru. Largou o consultório, os pacientes, meu pai e a mim para trás. Ainda não sei como ela teve coragem para tanto.
Vi meu pai envelhecer anos em apenas alguns meses. Mas ele não caiu num poço sem fundo como era de se pressupor. Manteve-se firme e meteu a cara no trabalho, deixando-me por conta dos meus avós. Foram tempos difíceis aqueles, principalmente por minha causa.
Entendam:
1. Minha mãe me abandonou para buscar a iluminação;
2. Eu estava entrando na adolescência;
3. Minha menstruação finalmente havia dado as caras.
Que garota de doze anos aguentaria tudo isso numa boa?
Enfim, fiz da vida dos meus avós e do meu velho um inferno. Aprontei todas e mais algumas no colégio, arrumava brigas em qualquer lugar e cheguei ao ponto de fugir de casa por quatro vezes.Passei a odiar Paraty e a pousada. Os turistas me irritavam. A alta temporada era uma tortura e eu jurei que assim que completasse dezoito anos, me mandaria da cidade.
E não é que cumpri a promessa?


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Capítulo 5


Minha avó, com seus cabelos que mais se parecem navalhas de tanto laquê, não para de me beijar, apertar, beliscar. Ela chora e ri ao mesmo tempo. E também vocifera:

— Por que não ligou? Eu teria arrumado o seu quarto, feito bolo de cenoura e comprado aqueles camarões graúdos que você tanto gosta. Odeio quando chega sem avisar.

Não disse que a vovó é doida?

Meu avô se limita a um abraço longo, daqueles que não necessitam de palavras. Ele é o tipo de pessoa que dá vontade de apertar as bochechas só por existir. Emana uma calma tão sublime que, ao seu lado, sinto-me flutuar.

— Avisou ao seu pai que viria? – vovô vinca a testa.

— Não.

— Demetria, o que houve? – ele deve possuir algum poder do além, sempre sabe quando estou em apuros.

— Podemos falar sobre isso mais tarde, vô? Não almocei e estou varada de fome.

— Como assim não almoçou? – estridente, vovó sacode meus ombros. – Demetria, já são quase cinco da tarde, não pode ficar tantas horas sem comer. Venha, vou preparar algo para você.
                                          ≈≈≈

A Pousada das Margaridas é um hotelzinho bucólico e acolhedor. Foi fundada em 1970 e a decoração mudou muito pouco desde então. Apesar disso, não é um local com cara de velharia. Está mais para um estilo vintage: rústico, chique e atual.As trinta suítes são disputadas a tapas nos períodos de alta temporada. Muitos nomes de peso já passaram por aqui, inclusive estrangeiros. E eles sempre voltam, o magnetismo desse lugar é latente.

A construção, em estilo colonial, foi totalmente restaurada assim que meu avô colocou as mãos na escritura do imóvel. Poucas foram as alterações na estrutura original e meu pai conta que uma pequena fortuna foi investida para que a Pousada das Margaridas se tornasse um dos pontos turísticos de Paraty.Um dos lugares que mais gosto é o pátio central, ladeado por jardins de margaridas, duas piscinas e um gazebo incrível, coberto por copas de árvores centenárias. É nesse pedaço de paraíso onde é servido o Melhor café-da-manhã ao estilo colonial do estado do Rio de Janeiro.
Ainda no complexo do hotel funciona um restaurante típico, comandado pelo Chef Espírito, um amigo de longa data. O apelido surgiu quando ainda éramos crianças e tem um motivo de ser: Espírito é albino e a alcunha pegou tão logo a inventei. Marcos Paulo é o nome dele, mas acho que nem mesmo a mãe do Espírito se lembra do seu nome de batismo.

Na parte de trás da pousada, seguindo pelo estacionamento, dois sobrados foram erguidos: a casa dos meus avós e a casa do meu pai, uma ao lado da outra. O que as separa é um suntuoso jardim de flores multicoloridas, circundado por um aroma que me remete a infância de imediato. É bem no centro desse jardim que estou agora, embalando-me para frente e para trás, num balanço de madeira construído pelo meu avô assim que dei os primeiros passos. A corrente range baixinho e sinto cheiro de verniz novo no ar.Jogo a cabeça para trás e fecho os olhos, capturando os sons dos pássaros e inebriando-me com o odor que se desprende das flores ao redor. Os pés se arrastam no cascalho branco enquanto meus cabelos vêm e vão pelo rosto, acompanhando o movimento do corpo.

— Demetria, algo me diz que você veio para ficar. – a voz do meu avô chega mansa e rouca aos ouvidos. – E não estou dizendo isso só pelos milhões de sapatos que lotam o seu carro. – ele limpa a garganta e solta a pergunta: – O que aconteceu em São Paulo?

Paro de me balançar e miro meu avô. Através das lentes de seus óculos, noto olhos azulados interrogativos, aliás, uma herança genética pela qual agradeço todas as manhãs. Nossos olhares são idênticos, com rajadas esverdeadas e douradas.
Respiro fundo e me preparo psicologicamente para a conversa. Sei que meu avô não arredará o pé daqui enquanto eu não desembuchar o que tanto me atormenta.

— Eu não sei qual é o meu problema, vô. Não gosto de me meter em encrencas, mas é impressionante: elas vivem se metendo comigo.

— Tem algo a ver com o Roger? É esse o nome dele, não?

— Não foi só ele. Teve o Alan, o Reinaldo e também o carinha da acamela. Todos me traíram, eu só atraio tipos assim para a minha vida. – lamurio-me.

— Vamos nos concentrar na última encrenca. O que aconteceu? – vovô toma assento ao meu lado, encontrando uma tremenda dificuldade em sentar-se no balanço pequeno demais para seu bumbum avantajado.

— Quer mesmo saber? – indago, pesarosa.

— Não me esconda nada.

— Ok. – faço uma pausa para rememorar os detalhes sórdidos. – Roger e eu estávamos juntos há quase um ano. Tínhamos uma reunião importante naquele dia. Um cliente poderoso lançou uma concorrência entre três grandes agências de propaganda da capital. Era a nossa chance, a minha oportunidade de provar que não sou apenas um rostinho bonitinho e que mereci o cargo de Diretora de Criação.

— Roger é o proprietário da agência, seu chefe, correto?

— Ex-chefe e ex-namorado. – bufo.

— Continue. – vovô incentiva.

— O fato é que o Roger estava atrasado para a reunião. A sala estava montada, minha apresentação pronta e nada do cara aparecer. Quando o cliente chegou, eu quase tive um surto psicótico.

— Não seria a primeira vez. – vovô lança uma gargalhada gostosa no ar, mas logo se recupera. – Desculpe, querida, prossiga.

Forço a memória a trabalhar. A cena se desenrola facilmente em meu cérebro fervilhante. Respiro fundo e dou voz as lembranças, como se tivessem ocorrido ontem:

— A sala do Roger é local proibido para qualquer funcionário da agência. Nem a faxineira pode limpar o lugar sem a prévia autorização do chefão. Nunca soube o motivo de tamanha paranoia, até aquele dia. Acreditava ser TOC ou outra doença mental qualquer.O fato é que precisava encontrá-lo e rápido. Ninguém sabia do paradeiro dele e o carro estava na garagem do prédio. Quando ouvi o celular do patife tocando dentro da sala, esmurrei a porta e não houve resposta.Pensei que ele estivesse em apuros, que um aneurisma fatal pudesse tê-lo derrubado, afinal, Roger nunca deixava o celular para trás, nem para ir ao banheiro.
Nesse ponto, mais do que decidida e angustiada, resolvi colocar em prática o lado MacGyver que você me ensinou.

— Arrombou a porta com um grampo de cabelo?

— Dois clipes. – elucido.

— Também funcionam muito bem. – vovô concorda, com um sorriso orgulhoso. – E o que encontrou ao entrar?

— Descobri o motivo daquela sala ser proibida para qualquer funcionário. – entro em devaneios e murmuro: – Que cara maluco.

— Demetria? – vovô estala os dedos e volto a narrar.

— Bom, me deparei com um sistema de monitoramento de última geração. Tive a impressão de estar no quartel general da CIA, haviam câmeras fantasmas espalhadas por toda a agência. – explico.

— Impossível detectar? – vovô tira os óculos e limpa as lentes na camisa. – Isso é proibido por lei.

— É, eu sei, mas o fato não tem muita importância agora. O lance foi que, quando me aproximei da mesa suntuosa daquele babaca, dei de cara com um monitor gigante e todas as câmaras estavam transmitindo, inclusive a que ele escondeu na escada de incêndio.

— Por que essa câmera é especial? – vovô coça os olhos e recoloca os óculos. – Ele estava lá? Na escada de incêndio?

— Acredita? Uma reunião mega importante para a empresa iria começar e o filho da mãe estava dando uma com a secretária boazuda dos peitos comprados. – uno as sobrancelhas, em dúvida. – Ainda acho que a bunda dela também foi comprada.

— Pegou seu namorado com a secretária na escada de incêndio. – vovô suspira, pensativo. – E o que você fez, Demi?

— Engoli a minha fúria e a profissional entrou em cena. Fui para a reunião e dei o melhor de mim. No meio da apresentação, o cretino apareceu com a maior cara lavada.

— Conseguiu ao menos terminar a sua apresentação?

— Terminei e o cliente curtiu. Mas então, o filho da puta com o ego do tamanho do Empire States resolveu puxar a sardinha para o lado dele, dizendo que a ideia da campanha havia saído daquela cabeça com os primeiros cabelos brancos aparecendo. – minha voz sobe alguns decibéis. – Poxa, vô, a ideia da campanha foi minha! Eu trabalhei semanas com a equipe de criação para bolar as peças mais criativas de que aquela agência já teve notícia! E o canalha simplesmente lança que a coisa toda partiu dele?

— Hum. – vovô une os indicadores na altura do queixo, reflexivo. – Já posso imaginar o final dessa história. Se eu bem conheço meu caldeirão em ebulição, você partiu a cara dele ao meio.

— E encaçapei as bolas também! – dou um soco no ar e então, cerro as pálpebras, arrependida. – Droga, vô, perdi o controle, para variar.

— E o emprego, pelo visto.

— E minhas economias, já que o desgraçado está me processando. O juiz congelou minha poupança até o veredito final.

— Nunca vi a justiça andar tão rápido nesse país. – vovô força um sorriso.

— O pai do safado é o juiz. – revelo, tristemente. – Sacou o meu drama?

— Não conte isso à sua avó. Ela é bem capaz de juntar todos os malandros de Paraty e pagar uma boa grana para finalizarem com esse tal de Roger. – vovô brinca e me arranca um sorriso Melancólico. –Demi, esse fulano não merece você.

— E eu, vô? O que eu mereço? – choramingo.

— Toda a felicidade do mundo, meu amor.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

DIVULGAÇÃO

Oi meninas vim aqui para divulgar um dos meus blogs jemi favoritos que é o blog da Lary, as fics são viciantes, super recomendo.Beijos.
                              Jemi Webs

Capítulo 4


São três da tarde.
Antes de seguir para Paraty, resolvo fazer um desvio de última 
hora. Giro o volante de Lúcifer e pego a péssima estradinha que me levará até Trindade, um dos meus lugares preferidos no mundo.
O Jeep Troller vermelho adere bem ao terreno, ainda assim, sou jogada para cima e para baixo no banco conforme desço a estrada esburacada a caminho da praia. Abro a janela e desligo o ar condicionado. Respiro fundo e o aroma de maresia me remete a tempos passados, num saudosismo intermitente.

O peito se enche novamente e fecho os olhos por dois segundos, talvez menos. Sinto-me abraçada pela atmosfera, pela natureza que me rodeia. Como é bom estar em casa.Paro Lúcifer sob as areias da praia. Recosto a cabeça e mordo o lábio para segurar o riso, enquanto rememoro uma das cenas mais hilárias que já protagonizei: meu primeiro beijo.

Foi nessa praia, num luau desses que deveriam constar dos livros de história da cidade. O beijo foi estranho, úmido e engraçado. Eu tinha quatorze anos e o garoto quinze. Nenhum de nós tinha beijado antes e é bem provável que, por esse motivo, as coisas não tenham saído como deveriam. Ou porventura, a culpa tenha sido minha.
Eu estava dando uma de difícil, mas na verdade estava louca para beijá-lo. Ele tinha aquela cara de nerd, usava óculos de grau ao estilo John Lennon e sua timidez me deixava mais a fim ainda.
Enquanto a galera se matava de dançar na pista improvisada sobre a areia, ele tomou uma das minhas mãos, numa confiança que eu nunca tinha notado antes. Sob a luz do luar e da iluminação bruxuleante dos candelabros, ele me puxou para a beira do mar, bem longe dos olhares curiosos.
Confesso que estava tensa. Eu já tinha anos de treinamento básico com o dorso da mão. Mas ele não era a minha mão, afinal, tinha lábios e uma língua. Só de pensar nisso, senti um frio congelante na espinha.Ele era uns dez centímetros mais alto do que eu. Comecei a divagar sobre as possibilidades: ele se abaixaria na minha direção ou eu deveria ficar na ponta dos pés? Não sei porque pensava sobre isso, mas na época me pareceu importante.Descalça, senti a água morna se aconchegar. Observava um navio lá no horizonte, as cabines ainda acesas. Meus cabelos esvoaçavam com a leve brisa e o cheiro do mar me entorpecia.

Ele tomaria a iniciativa ou eu deveria agarrá-lo? Remoí aquela dúvida por pouco tempo. Suas mãos rasgaram o ar e tomaram meu rosto em chamas. Seu olhar era fixo, tão profundo que não consegui me segurar. Eu desatei a rir, desenfreadamente.
Acho que o constrangi, não sei dizer. Ele mordeu o lábio e ficou me encarando, com uma baita interrogação no semblante. Eu juro que tentei, mas a risada nervosa me dominou, sem parada. Se fosse qualquer outro cara, teria virado as costas e se mandado. Bem, ele até fez isso mais tarde e eu entendo perfeitamente.Descontrolada, afundei meu rosto em seu peito franzino. Seus dedos se enroscaram em meus cabelos e acho que ele bufou, talvez inconformado com minha atitude. O riso estava frouxo, ainda assim, contive o acesso por tempo o bastante para ouvir o que ele disse a seguir:

— Demi, você está me zoando? Tirando uma com a minha cara?

— Não! É claro que não. – estava envergonhada demais para mirar seus olhos esverdeados. – Escute, vamos tentar novamente?

— Acabou o clima, Demetria.

— Por favor? – e então, fiz uso da mais poderosa arma feminina: a sedução.

Na ponta dos pés, comecei a beijar o seu ombro, até chegar ao pescoço. Ele tombou a cabeça de lado e acho que arfou. Seus dedos, ainda enroscados em meus cabelos, escorregaram para as minhas costas. Senti seus lábios em minha testa, têmpora, bochecha e então, colaram-se em minha boca.

Uau!

O toque era macio, úmido, até gostoso. Sentia choques elétricos por toda a extensão da pele e havia uma conexão entre nós, algo surreal. Eu não sabia o que fazer com a droga da minha língua, portanto, ela permaneceu dentro da boca. Mas então, algo muito esquisito aconteceu. A língua dele entreabriu meus lábios e ele entrou, sem pedir licença.

Puta merda, aí foi demais.

Um novo acesso de riso se instalou e dessa vez, não teria volta. Ele jogou as mãos para o céu, entregando os pontos. Pelo visto, eu não iria colaborar. Até tentei dissuadi-lo, dizendo entre engasgos que eu iria me controlar. Ele não acreditou, virou as costas e me deixou ali, rachando de tanto rir.
Apesar dos pesares, foi muito legal, uma lembrança que realmente vale a pena guardar. Para falar a verdade, estou sentindo um aperto no peito nesse exato segundo. Essa memória sempre vêm carregada de fortes emoções.
Saio do carro e o vestido floral esvoaça com a brisa. Meus cabelos dourados, na altura do queixo, também se espalham, livres como o vento. Inspiro e expiro por várias vezes, chegando a ficar zonza. Abro os braços e dou um grito: “Cheguei!”. Sempre faço isso e na maioria das vezes alguém grita de volta: “E daí?”.
Bando de estraga prazeres.

Ouço a voz de Nauane gritando dentro de Lúcifer. Ela fez essa gravação há séculos e sempre que escuto, acabo rindo sozinha. A musiquinha que ela compôs é assim:

“Demetria, atende logo essa bagaça por que sou eu. Alô, Demetria, me atende logo. Atende logo esse celular, Demetriaaaaaaaaaa!”

— Oi, Nanie.

— E aí, Demi? Chegou?

— Ainda não. Adivinhe onde estou.

— Se eu bem conheço você, deve ter feito um desvio básico a caminho de Trindade, acertei? E como você é um tanto óbvia, sei que deve estar sentada sobre o capô de Lúcifer, contemplando o mar azul e relembrando os melhores momentos da sua vida, dentre eles, seu primeiro beijo para lá de cômico.

— Poxa, você deveria ganhar dinheiro com isso. – sorrio sobre o capô do Jeep, um tanto decepcionada por ser tão óbvia. – Fui parada por um policial no caminho, mas ele era gente boa e batemos um papo interessante.

— Foi multada? Se foi, prepare-se. Chegou uma multa hoje cedo para você por excesso de velocidade na Marginal Pinheiros. Com essa, acaba de estourar os pontos da carteira de motorista.

— Nem isso vai tirar meu bom humor no momento. – dou um soco em Lúcifer, só para aliviar a pressão. – Como estão as coisas por aí?

— Vou sentir a sua falta. A casa está tão vazia sem as suas caixas de sapatos…Dou uma gargalhada, engasgando. Nanie também ri do outro lado da linha, mas sei que está sofrendo com a minha mudança. Ela tinha sugerido umas férias, mas acabei optando por voltar a morar com o meu pai e ajudar meus avós a tocarem a pousada. Aliás, o sonho deles é que eu aprenda os macetes do negócio para herdar o hotel quando eles se forem. Gosto da ideia, não é de toda má.

— Não acredito que estamos conversando pelo celular. Esse troço nunca dá sinal por aqui. – digo, estreitando os olhos para observar Melhor o horizonte.

— Estamos no Brasil, esse troço nunca dá sinal em lugar algum. Erga as mãos para o céu, você está vivendo um milagre dos grandes. – Nanie faz uma pausa curta. –Demi, se precisar de qualquer coisa me ligue, está bem?

— Pode deixar. E, Nanie, peça suas férias vencidas naquela agência do capeta. Não aceite nada menos do que trinta dias, vamos nos divertir muito por aqui.

— Será a primeira coisa que farei na segunda-feira. Promete se cuidar?

— Prometo. E pique essa multa em mil pedaços e depois queime, talvez os pontos na carteira sumam por magia.

— Pode deixar.
                                                  ≈≈≈

Dois quilômetros para a entrada de Paraty.

Essa é uma cidade colonial, preservada pelo Patrimônio Histórico Nacional devido ao conjunto arquitetônico de suas construções. Sempre que entro no Centro Histórico, sinto-me automaticamente levada a outras épocas, onde andar de salto alto era impraticável devido às pedras pés-de-moleque do calçamento. Bem, andar de salto continua sendo impossível para mortais desastradas como eu. Por sorte, tenho inúmeros sapa tênis, sapatilhas e tênis confortáveis.

Paraty foi fundada em 1667 e teve grande influência econômica no Brasil, devido aos engenhos de cana-de-açúcar. A pinga produzida na região é incomparável até os dias de hoje. Adoro uma boa caipirinha com camarões à beira mar. O que dizer? Gosto das boas coisas da vida.

A cidade é cercada pela Mata Atlântica e tornou-se, com o passar dos anos, um polo de turismo nacional e internacional. Nasci aqui há vinte e oito anos e sei por que deixei tudo para trás. Além da máster burrada que fiz há dez anos, minha mãe também contribuiu para essa decisão tresloucada, mas não estou a fim de falar sobre isso agora.

A pousada dos meus avós situa-se no Centro Histórico e lá não é permitido o tráfego de automóveis. Por esse motivo, faço um desvio e sigo por uma rua lateral ao centro. Embico Lúcifer no estacionamento que fica na parte de trás do estabelecimento e desço do carro, abrindo a portinhola de madeira.

Não avisei ninguém sobre a minha mudança. Gosto de entradas triunfais e inesperadas. Só espero que minha avó não tenha um ataque do coração. Ela é do tipo emotiva e fica extremamente irritada quando não aviso que estou chegando. Coisas de gente mais velha.

Desligo o motor e preciso de algum tempo para me localizar. Faz dois anos desde que vim pela última vez e só passei o final de semana. Estranhamente, parece fazer mais tempo. Estive tão comprometida com o meu trabalho e os meus relacionamentos destrutivos que, sei lá, acabei deixando minha vida familiar de lado. Estou me sentindo culpada, é isso.Com um friozinho esquisito na barriga, aprumo-me em direção à recepção do hotel. As palavras do policial Pacheco de repente ecoam em minha mente, como um presságio: “Encare sua chegada em Paraty como um recomeço, uma nova chance.”

Ok, Pacheco, você tem toda a razão. Farei desse o primeiro dia do resto da minha vida.
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Oi meninas estou muito feliz por voces estarem gostando da fic nova; terças,quintas e sabado as 13:00 vou postar um capitulo e um bônus no domingo, ok? Beijos.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Capítulo 3


Duas horas depois…

— Aqui está a multa e uma advertência. Só não irei apreender a sua carteira porque estou com pena de você, Demetria. Fiquei amiga do policial rodoviário Pacheco após três horas de averiguação sob o sol escaldante. Contei a ele e seus colegas todos os meus infortúnios, desde aquela última apresentação na agência. A princípio, houve certa comoção entre os homens da lei, que ficaram chocados com a forma pela qual tratei do assunto traição. Mas isso foi só no início da narrativa, afinal, tão logo cheguei ao âmago da história, aqueles fardados começaram a me dar tapinhas nas costas e recebi vários incentivos para nunca mais me deixar enganar.

— Até que ficar presa nesse posto policial não foi de todo o mal, Pacheco. Estou mais calma, prometo não pisar tão fundo no acelerador do Lúcifer. – digo, jogando a bolsa por sobre o ombro, pronta para voltar à estrada.

— Mude o nome desse carro, não atrai boas vibrações.

— Você é do tipo místico? – um sorriso me escapa pelos cantos da boca.

— Olhe, vou dar um conselho…

— É de graça? Porque como eu disse, estou sem um puto de um centavo. O Roger fez o favor de me ferrar.

O policial tira os óculos do rosto, guardando o objeto no bolso frontal do uniforme. Aproxima-se com a cabeça baixa e ergue as sobrancelhas na minha direção. Seus olhos cor de amêndoa me atravessam e sinto que lá vem uma lição de moral daquelas.

— O que é seu está guardado e virá no tempo certo, independente da velocidade com que você corra. A ansiedade é uma distração inútil, digo isso com propriedade. Desacelere. Acredite em um poder superior. Não estamos sozinhos, alguém olha por nós.

— Isso é papo de espírita. Ou crente. Ah, você é evangélico, Pacheco? – quando quero me defender, faço isso. Tiro sarro, na maior cara dura.

— Gostei de conhecer você. – ele apenas sorri, recolocando os óculos de sol. – Deixe o que passou para trás. Encare sua chegada em Paraty como um recomeço, uma nova chance. Será legal, você vai ver.

— Valeu mesmo, Pacheco. E desculpe as piadinhas. – sinto-me mal de repente.

— E, Demetria – ele balança o indicador na altura do meu nariz. –, se eu parar você novamente por excesso de velocidade, apreendo a carteira e o tal de Lúcifer, compreendido? Já passei um rádio para todos os postos policiais até Paraty e eles ficarão de olho em você.

—Beleza, Pacheco. – estendo a mão. – Foi legal conhecer você, pensei que todos os policiais eram malas sem alça.–Pacheco dá uma gargalhada e retribui o cumprimento. Não saberia dizer a idade dele, mas pelos cabelos brancos, chutaria uns quarenta e cinco anos.

— Até mais, garota.
                                            ≈≈≈

De volta à estrada.

Mantenho Lúcifer sob rédea curta, não permitindo que o velocímetro ultrapasse os cento e dez quilômetros por hora. Não é nada fácil, só para constar.
Meus olhos se revezam entre a estrada e o retrovisor, mas minha mente viaja a centenas de milhas daqui. Penso nas palavras do policial Pacheco e também da minha melhor amiga, Nauane. É impressionante, mas sempre que preciso escutar umas verdades, elas surgem dos lugares mais inusitados e de pessoas por vezes inesperadas.Talvez Pacheco tenha razão quando diz que alguém olha por nós. Bem, no meu caso, esse alguém parece ser cego.

Só mais vinte quilômetros e estarei em casa. Meu estômago se remexe feliz quando penso na comidinha caseira da pousada e nos bolinhos de chuva do café-da-manhã.Meus lábios sorriem instintivamente quando imagino os milhões de beijos e abraços que darei nos meus avós. Faz dois anos que não venho a Paraty, são eles que costumam me visitar.Meus olhos se umedecem quando penso no meu pai. Faz seis meses que não nos vemos fisicamente. Ele tem trabalhado muito, assim como eu. Nossas conversas acontecem nos finais de semana, pelo Skype. Por mais que eu o veja do outro lado do monitor, não é a mesma coisa. Preciso de contato físico, aliás, estou precisando mesmo é de um abraço bem apertado, daqueles de estalar todos os ossos. E só o meu pai é capaz desse feito.

Capítulo 2

 

Highway to Hell rola nas alturas enquanto afundo o pé em Lúcifer, meu Jeep Troller para lá de incrementado. Aos prantos, minha voz atinge as alturas, acompanhando com a cabeça as batidas da bateria e os acordes de Angus e Malcolm Young.
As unhas cor de ameixa arranham o volante de plumas avermelhadas quando relembro o que se passou e para onde estou indo. Faltam sessenta quilômetros para o meu destino.
Quando as coisas não saem como deveriam, fujo para o colo do meu pai. Ele sempre sabe o que fazer, mesmo que a coisa esteja preta para o meu lado. Estou no fundo do poço e só ele poderá me salvar.

Ouço a sirene e olho pelo espelho retrovisor. Mas que merda! Meus olhos correm até o velocímetro e xingo alto, esmurrando o volante com o punho fechado. Mil vezes merda!
Meu pé desacelera e dou seta para a direita. Bufo alto antes de desligar o som e o motor do carro. Não tiro o cinto de segurança, mas já me preparo para o que virá. Abro a janela lateral e aguardo a aproximação do policial rodoviário.

— Documentos. – a voz grave e altiva me faz gelar.
— Um minuto. – abro a bolsa e saco os documentos lá de dentro. Por sorte está tudo em dia, como meu velho ensinou.
Estendo a carteira com todos os documentos relevantes. Através do meu Ray Ban zerado, noto que esse é o típico policial metido a besta, com “oclinhos Police” e cara de malvado.
— Seu velocímetro está com problemas? – ele indaga, num tom arrogante.
— Acho que não. – limito-me na resposta.
— Estava quarenta por cento acima da velocidade máxima permitida. – ele checa a documentação. – Para onde está indo?
— Paraty.
— Talvez não chegue lá inteira se mantiver essa velocidade. – ele baixa os óculos para me encarar. – Pode sair do carro, por favor?
— Claro. – arquejo inconformada antes de desatar o cinto de segurança. – Eu realmente não percebi que estava correndo tanto.
— Nenhum motorista pé de chumbo percebe. – o policial franze os lábios e engulo em seco. – O que são essas caixas? Você tem a nota fiscal desses produtos?
As caixas a que ele se refere são da minha mega coleção de sapatos. Duzentos e oitenta e dois pares no total. Gosto de mantê-los em suas caixas originais, onde faço uma janelinha e nomeio um por um. Não sou louca, apenas gosto de sapatos.

—Não são produtos, são sapatos. Estou de mudança para Paraty e esses são meus móveis. –reviro os olhos quando o policial arqueia as sobrancelhas, incerto.
— Tudo isso são sapatos? Para uso pessoal? – ele bate com a caneta Bic na boca, mirando-me.
— Algum problema com isso? – há certa irritação no meu tom e o policial percebe.
— Abra o porta-malas e essas caixas. Farei uma averiguação mais detalhada.Como assim uma averiguação mais detalhada? Esse policial está de sacanagem comigo, só pode.
— Está de brincadeira, não é? – levo as mãos aos quadris. – Olhe, seu policial, eu tive uma semana do cão. Perdi meu namorado, meu emprego, minhas economias, o chão onde pisava… eu perdi tudo, menos meus duzentos e oitenta e dois pares de sapato. E, claro, não perdi o Lúcifer aqui.– bato uma das mãos na lataria do carro. – Por favor, dê logo essa multa e me deixe seguir viagem. Tenho litros de lágrimas para chorar no colo do meu velho pai.
Assumo uma postura ereta e tombo a cabeça de lado, aguardando a reação do homem da lei. E a resposta vem, totalmente inesperada.

— Siga-me até o posto policial mais a frente. Não só ganhará uma multa como também passará horas a fio aguardando que uma minuciosa averiguação seja feita nesse tal de Lúcifer. – ele chega mais perto e sinto o bafo de café nas fuças. – Mocinha, se não quiser se encrencar ainda mais, sugiro ficar de boca fechada.

Mas que merda!

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Capítulo 1


— Vou virar lésbica.
— Como é????
Não vejo alternativas para minha pessoa. Meus relacionamentos são sempre recheados de caos, incertezas e o pior: traições. Por que sempre atraio tipos assim para minha vida? É carma, sina, macumba… é trabalho feito, só pode ser!
Nauane, minha melhor amiga, bate com o copo na mesa e me encara, efusiva. Sei que ela gritará verdades na minha cara e não estou a fim de sermões hoje. Ajeita a franja castanha para o lado e estreita os olhos, mirando-me bem lá no fundo.
— Nem vem, não quero ouvir. – balanço as mãos, defendendo-me de sua fúria sábia.
— Caramba, Demi. Se você me escutasse, não se meteria com tipos como o Roger. O babaca é um pegador, um galinha filho da mãe e ainda assim, você assumiu o risco. Para piorar a situação, deu-lhe um chute no saco e quebrou o nariz do cara, no meio de uma reunião importante para a agência. Perdemos o cliente e você a compostura e o emprego. – ela para e respira antes de arrematar: – Porra, você tem merda na cabeça?
— Nanie, não me crucifique. – jogo a cabeça para trás, entregando os pontos. – Você tem razão em tudo e eu a odeio por isso.
— Claro que me odeia, sou sua amiga e digo as verdades na sua cara!
— Droga, Nanie, o que farei da minha vida agora? – encolho os ombros, batendo com a testa na mesa do Starbucks. – Como pude ser tão burra?
Burrice ao quadrado é minha marca registrada desde os doze anos de idade. Esse traço marcante da minha personalidade estourada e um tanto desequilibrada, já me meteu em altas confusões. Algumas até bem sérias que acabaram por ferir a minha alma.
O que eu tinha na cabeça para acertar o Roger daquela maneira ao final da reunião? Nem sei se realmente estou apaixonada pelo cara! Agi de forma intempestiva, sem pesar as consequências. E agora, pagarei em dobro por tamanha estupidez.
— Aproveite a demissão por justa causa e tire umas férias. Vá visitar o seu velho, passe um tempo com seus avós. Fará bem a você. – Nauane se desarma e toma minhas mãos entre as suas. –Demetria, enquanto você respirar, sempre haverá uma saída.
— Belas palavras. – deixo um sorriso lacônico escapar. – Sei lá, acho que Deus desistiu de mim. Não tenho salvação, Nanie.
— Ah, cale a boca, também não precisa ser tão dramática. – Nanie recosta na cadeira e suspira alto. – A indenização vai acabar com suas economias, já pensou no que vai fazer?
    Que saco. – chacoalho a cabeça, descrente. – E nenhuma agência de São Paulo receberá meu currículo depois do que aprontei. Cavei minha própria sepultura e me atirei de cabeça.
— Nada que o tempo não resolva.
— Talvez eu deva mesmo ir para Paraty. – digo, resoluta. – Ajudar os velhos na pousada, chorar no colo do meu pai, curtir uma solidão à beira mar... não será de todo o mal. Mas é melhor eu deixar meu revólver por aqui, ou atirarei nas têmporas na primeira oportunidade.
— Melodrama barato esse. – Nanie revira os olhos, no maior tédio. – Sabe que pode sempre contar comigo, não sabe? – ela enfatiza.
— Obrigada, Nanie. É muito bom ter você na minha falida vida.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Nova História

   O homem perfeito 
Sinopse 

Demi teve alguns relacionamentos ruins, outros péssimos... Mesmo assim, ela não desiste: um dia ainda vai encontrar alguém que a complete e que entenda algumas manias fofas que ela tem como comprar mais sapatos do que pode guardar ou tomar uma multa ou outra por excesso de velocidade. Ela faz a sua parte escrevendo um pedido ao universo, no qual descreve esse ser incrível nos mínimos detalhes. Agora é só esperar, certo? Demi não imagina, porém, que esse presente dos céus já existe, mas foi parar nos braços de uma mulher in-su-por-tá-vel. O que fazer quando o destino insiste em brincar com a sua paciência?


                 

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Oi meninas essa será a nova fic do blog, comentem o que vocês estão esperando da fic, beijos. 

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Capítulo 44 Ultimo


Capítulo 44 Ultimo 

A beleza majestosa diurna da biblioteca se transformava de noite em algo diferente. A Sala Astor, iluminada suavemente por uns candelabros de reminiscência romana, era um majestoso espaço de mármore branco e espetaculares sombras. Demi apenas o reconheceu, preparada com mesas redondas formalmente arrumadas para os duzentos e cinquenta convidados, como o lugar que tinha atravessado diariamente. Agarrada ao braço do Joe, pensou que não deveria sentir-se incômoda por estar ali. Não era a mesma mulher que tinha subido as escadas com os olhos arregalados no seu primeiro dia de trabalho. Em alguns aspectos, nem sequer era a mesma mulher que Blanda tinha despedido fazia duas semanas. Com cada dia que passava, o amor de Joe, e agora sabia que era o amor mais profundo e claro do que jamais tinha ouvido dizer, estava ajudando a moldar uma nova versão de si mesma que nunca tinha sonhado que pudesse existir. 

— Estes eventos são muito mais toleráveis quando você pula a hora do coquetel — ele comentou, piscando um olho. Com seu smoking preto, era toda uma aparição, a personificação da beleza masculina. Demi sorriu-lhe. Graças aos Louboutin que usava, quase chegava ao nível dos olhos. Entretanto, Joe não teve nenhum problema em beijar os cabelos dela, que era o que estava fazendo quando um fotógrafo da revista New York fez uma foto. A atenção dos meios a surpreendeu, mas tentou ocultar sua reação. 
— Será melhor que se costume — disse Joe, mas ela não tinha nem ideia do que tinha querido dizer com isso. 
Sem dúvida, ali haveria alvos mais valiosos para os fotógrafos. 
Apenas no outro lado da sala, viu um grupo de jovens famosos de Manhattan, o ator Ethan Hawke (bonito e vagamente desalinhado, mas aparentemente mais velho do que ela pensava), Julianne Moore (deslumbrante com um vestido de seda cor ametista) e Adam Levine, o cantor do Maroon 5. Com sua jaqueta de smoking e as tatuagens tampadas parecia um cara normal de Nova Iorque. A única coisa que mostrou o seu status de estrela era a esbelta ruiva que tinha agarrada no braço, a que Demi reconheceu do anúncio de cuecas Calvin Klein num anúncio do Times Square. Agradeceu que Joe a tivesse convencido de que ficasse com o espetacular vestido Gaultier. Se tivesse posto algo inferior, teria se sentido como o patinho feio entre os cisnes. Como de costume, seus dedos tocaram o pingente com o pequeno cadeado de ouro que levava sob o pescoço de renda. Percorreu a sala discretamente com o olhar, perguntando-se quando se encontraria com Blanda e temendo que chegasse o momento. Mas em lugar de ver seu Némesis, ficou encantada ao descobrir Margaret, que estava conversando com um dos candidatos ao prêmio e que estava muito elegante com um vestido preto comprido e um impressionante colar de grandes pérolas ao pescoço. Viu Demi quase ao mesmo tempo que ela e se desculpou para aproximar-se. 
— Que surpresa tão agradável — exclamou Margaret. 
— Acreditei que disse que não viria — ela comentou, enquanto apoiava a mão em seu ombro. 
— Oh, tinha planejado não fazê-lo. Mas ao olhar da minha aposentadoria, vão me dar uma espécie de prêmio e teria sido de mau gosto não aparecer. — Virou-se para Joe e dedicou-lhe um sorriso caloroso. — Como está Joe? Como sempre tão elegante... 
e cada ano que passa se parece mais com a sua mãe. Sei que estaria muito orgulhosa de seu trabalho aqui. 
Demi apertou a mão dele, preocupada como ele tomaria o comentário. Mas bastou lhe lançar um olhar para seu rosto para ver que, longe de lhe desgostar, essas palavras o tinham feito ruborizar-se de felicidade. 
— Agora, se me dão licença — desculpou-se Margaret, — ainda tenho que encontrar um garçom que me ofereça uma taça de vinho branco em vez de algum ridículo coquetel. 
Demi ouviu uma voz familiar que a chamava. 
— Lovato! — virou-se e viu Liam, que se aproximava com sua acompanhante, uma jovem muito magra, com o braço coberto de tatuagens e o cabelo rapado. 
Demi a reconheceu, era a mensageira duendezinha. 
— Não liga, não escreve... Não posso acreditar que fosse assim — disse-lhe, enquanto sorria para indicar que só brincava. 
— Sim, foi um pouco repentino. Liam este é Joe, Joe, este é Liam e... 
— Miley — disse a jovem, enquanto estendia a mão. 
Demi puxou a manga do Joe. 
— É a mensageira que me entregava todas as suas cartas — explicou e observou como os olhos do Miley se arregalavam. 
— Você é o cara? — perguntou a jovem. — Tio, obrigado pelas gorjetas. Me pagou isto. 
Estendeu o braço para lhes mostrar uma tatuagem recém-feita, uma linha de texto em itálico que percorria a parte inferior de seu antebraço: A mente tem seu próprio lugar e pode fazer do inferno um céu e do céu um inferno. 
— É uma citação do Paraíso Perdido de Milton— comentou a garota com orgulho. 
— Sabe? Eu a julguei mau — confessou Liam a Demi. — Deve ser realmente demais para que a despeçam depois de levar só três meses no cargo. 
Ela não teve nem ideia de como responder a isso, embora Miley assentiu vigorosamente para mostrar seu acordo. 
— Demi... — disse Joe enquanto apertava a sua mão. 
Quando ela olhou para cima, piscou um olho. 
Um homem de cabelo prateado, baixo, mas de aspecto distinto atravessava a sala em direção a eles. Assim que Joe o viu, seu rosto se iluminou. 
— É bom ver você, Gordon — saudou-o — Quero que conheça a minha namorada, Demi Lovato. Ela sorriu para as suas palavras. O homem sacudiu sua mão. 
— Demi, este é Gordon Mortimer, o editor do Taschen. Ela conhecia Taschen, provavelmente a maior editora do mundo de livros de desenho, arte e fotografia. Joe tinha uma considerável coleção deles no seu apartamento: Dalí, Helmet Newton, David LaChapelle, Roy Lichtenstein. 
— Joe vi sua exposição no Manning-Deere. Um trabalho fabuloso. Estive falando com seu agente e deu-me muito coisa. Mas eu adoraria fazer um livro com você. Comentou-lhe isso? Ele confirmou. 
— Sim... e me sinto lisonjeado. Eu adoraria trabalhar com você, mas não tenho certeza de que as fotos de Camilla Belle sejam o material adequado para meu primeiro livro. 
— Tem outra coisa em mente? 
— Poderia ser. 
— Vamos almoçar juntos na próxima semana. — O homem sorriu a Demi e apertou a mão de Joe. — Estou impaciente para continuar a falar sobre isso. 
Quando ela teve certeza que ele não podia ouvir, ela se virou o Joe. 
— Isso é tão emocionante... — disse. — Queria falar com você mais tarde. 
Eles começaram a se mover entre os convidados e, como um animal na selva, Demi sentiu mais que viu, que Blanda a observava. Ela virou-se apenas o suficiente para para vê-la. Sua antiga chefe estava com um homem de aparência suave que a rodeava com o braço e Demi supôs que seria seu noivo, Harrison. 
Demi encontrou seu olhar e, desviou o olhar rapidamente, porém, o estrago estava feito. Pôde interpretar claramente o que diziam seus olhos: "saia da minha festa, puta". 
— Oh, Deus — sussurrou Demi. — O que? — perguntou Joe.
— É Blanda. 
— Ignore-a — ordenou. — Não pode permitir que fique nervosa. E não poderá evita-la a noite toda. Está sentada conosco. 

                                                  *** 

Sua mesa era a mais próxima do palco e estava composta claramente pelos convidados mais importantes da noite. Demi estava entre Joe e o diretor da biblioteca. Em frente dela, Ethan Hawke os entretinha com relatos da primeira festa dos Young Lions, em 1999. 
Demi quase não que podia vê-lo por cima do centro de mesa de copos-de-leite, mas escutava as anedotas com muita atenção. Ao lado dele, Blanda jogava faíscas pelos olhos, com uma raiva que sem dúvida era invisível para todos exceto para ela. 
A história dos desastres evitados por pouco da primeira festa foi acolhida com sonoras gargalhadas e isso animou a Harrison a contar sua própria anedota sobre a primeira vez que levou Blanda a Inglaterra para que conhecesse sua grande família e ela se viu obrigada a participar da caça anual da raposa. Seu relato divertiu a todos menos à própria Blanda. 
— Sempre digo a ela que não se preocupe e, mesmo assim sempre o faz, embora no final as coisas acabam magnificamente — concluiu Harrison. 
— Possivelmente acabam magnificamente porque me preocupo. 
Ou como eu gosto de dizê-lo por meu duro trabalho — replicou Blanda. 
Se alguém mais na mesa percebeu a tensão da troca, não o mostrou. Ethan estava respondendo perguntas sobre seu último projeto, uma sequencia do filme Antes do entardecer. Essa era a primeira vez que Demi ouvia falar disso e tentou reprimir o impulso de intervir e dizer-lhe o quanto tinha amado o filme. Deu-se conta de que o tinha visto quando possivelmente era muito jovem para apreciar plenamente a sua exploração da nostalgia, as oportunidades perdidas e os compromissos mais persistentes da vida, mas apesar de tudo tinha-a encantado. Até agora, era a razão pela que desejava visitar Paris. 
Pensou que deveria mencionar a Joe. Talvez algum dia pudessem ir juntos. Embora lhesegurava a mão por debaixo da mesa, ele estava distraído conversando com o par de Adam Levine, a quem, ao parecer, tinha fotografado fazia uns poucos meses para a revista W. Houve um tempo, não muito longínquo, que isso teria feito Demi sentir-se ciumenta e insegura. Mas estava convencida de que seu lugar em frente a sua lente fotográfica, e em seu coração, não tinha rival. Quando pegou trechos da sua conversa com a modelo, sorriu ao escutar que Joe estava falando dela. O diretor da biblioteca se desculpou. 
— É hora de começar o espetáculo — comentou e se aproximou do palco. 
O persistente murmúrio da sala ficou em silêncio quando o homem se aproximou do microfone para saudar à décima quarta festa dos Prêmios de Ficção Young Lions. 
— Antes que comecemos com a apresentação de nosso primeiro candidato, desejo dar as graças a todo o conselho, este ano, seus membros fizeram o impossível para organizar esta noite seis meses antes da nossa habitual data. 
A sala estalou num caloroso aplauso. 
— E agora tenho o prazer de lhes apresentar o presidente do conselho, Joseph Jonas. 
— Voltarei em seguida — sussurrou ele. 
Em seguida se reuniu com o diretor no palco. Trocaram algumas palavras, e as apresentações foram feitas e no final um dos escritores finalistas tomou o microfone para ler um fragmento de seu primeiro romance. Demi observou a graça e naturalidade com que Joe se desenvolvia em frente a multidão e pôde ver os olhos de todas as mulheres fixos nele, especialmente os de uma loira em particular, sentada em frente a ela. Quando Joe retornou à mesa, Demi se sentia cheia de orgulho e amor. 
Ele não se sentou, mas sim acariciou-lhe levemente as costas. 
— Vamos lá for tomar um pouco de ar — sugeriu. 
Não teve que repetir duas vezes. Estava ansiosa por compartilhar um momento a sós com ele. Imaginou um rápido mas apaixonado beijo no saguão. Joe caminhou rápido segurando a sua mão. Não disse nenhuma palavra até que estiveram fora, na entrada. 
Fazia frio e Demi estremeceu. Joe tirou a jaqueta e a pôs sobre os ombros. 
— Parecia tão dominante aí acima — comentou. 
— Você entre todas as pessoas é a que melhor sabe que aspecto tenho quando sou dominante. 
Ela sorriu e negou com a cabeça. 
— Já sabe a que me refiro. 
Ele se virou para ela e lhe esfregou os ombros. 
— Já se aqueceu? 
— Sim — respondeu com um amplo sorriso. 

Os faróis dos carros iluminavam a Quinta Avenida. Ela inspirou o ar, uma brisa que soprava do este. 
— Demi, lembra o que disse o editor, certo? 
— Sim. É obvio. É realmente emocionante. Já tinha me comentado algo. 
Joe assentiu. 
— Meu agente me disse isso há algumas semanas. Mas então não tinha nada que eu queria capturar num livro. Eu pensei que era muito cedo para fazer algo assim com o Taschen. 
— Não se preocupe — ela o tranquilizou. — Tenho certeza de que a oferta ainda estará de pé quando estiver preparado. 
— É isso que eu queria falar com você. Estava esperando o momento oportuno, mas o fato de que nós nos encontramos com o Gordon esta noite... foi uma casualidade. 
Demi o olhou com curiosidade. 
— O que? Você está me deixando nervosa. 
— Quero mostrar suas fotos. Para um possível livro. 
Ela prendeu a respiração. Levou uma mão ao peito enquanto se dizia que devia manter a calma. 
— Joe, você disse que essas fotos eram apenas para você. Para nós — acrescentou rapidamente, tanto que não sabia se ele a teria entendido. 
— Eu sei. E pode continuar sendo assim. Só te estou dizendo que, de todas as fotos que já fiz, essas são as minhas favoritas. As melhores, com certeza. A paixão e o amor que sinto por você se refletem nelas. É o que estava faltando no meu trabalho todo este tempo. Eu te amo Demi. 
— Eu também te amo — disse e Joe a atraiu para seus braços. 
Ela encostou o rosto no seu ombro, com cuidado para não manchar a camisa branca com o batom vermelho. Seus sentimentos por ele nesse momento eram tão fortes que faziam que a resposta a sua pergunta estivesse clara. Estava orgulhosa do que tinham feito juntos. As fotografias eram o resultado tangível do seu encontro no meio termo, a descoberta do lugar onde pudessem amar um ao outro e també amar a si mesmo. Não havia nada de errado nessas imagens. Não tinha que insistir que ficassem só entre eles. Talvez até se não fosse capaz de entrega-las seguiria guardando uma parte de si mesmo. E desejava dar-lhe tudo. 
— Quero que mostre as fotos — decidiu. 
Joe se virou para trás e a afastou delicadamente. 
— Não tem que aceitar. Mesmo assim, te amo — ressaltou. 
Embora Demi podia ver que ele tentava ser discreto e que sua excitação era evidente. 
— Sei que não tenho que aceitar. Falo muito a sério. 
Ele olhou para baixo, voltou a olhar para ela e a surpreendeu ver lágrimas nos seus olhos. 
— Me deu um verdadeiro presente Demi. E não me refiro só às fotos. 
Ela se aproximou e o rodeou com os braços. Sentia-se tão feliz que parecia que ia explodir de felicidade. Joe a empurrou e então percebeu de que ele estendia uma caixinha azul. Uma caixa da Tiffany'S. 
— O que é isto? — perguntou, sentindo um déjà vu da noite que lhe deu de presente o cadeado. Joe sorriu com os olhos brilhantes. Demi desatou rapidamente o laço branco e a abriu. Encontrou uma chave de platina, de quase quatro centímetros de comprimento, coberta de diamantes. Tirou-a da caixa e viu que era um pingente. 
Ele esticou os braços e ela percebeu que estava desabotoando o pingente de cadeado. Joe o guardou em sua mão.
— Eu adoraria vê-la com o novo — disse-lhe, enquanto o punha.
— Você não terminou de olhar para dentro da caixa.
A base de veludo sobre a que tinha estado o pendente se via vazia.
Demi olhou para Joe com curiosidade. Ele estendeu a mão e puxou o forro da caixa. Ali, no fundo, havia uma chave desgastada de bronze, muito normal.
— O que é isto? — perguntou confusa.
— A chave de meu apartamento — respondeu. — Suponho que com sua companheira a caminho do altar necessitará de um lugar onde viver. Demi levou uma mão à boca enquanto esboçava um sorriso idiota que ameaçava converter-se numa risada de êxtase.
— Isso é um sim? — perguntou Joe.
Ela assentiu com os olhos arregalados.
Ele a beijou nos lábios com suavidade, e depois se inclinou para trás.
— É obvio, compreenderá que em minha casa há certas normas.
Mas sei que é obediente.
— Oh, eu sou?
— Sim — respondeu, abraçando-a e pressionando a boca no seu pescoço. — No quarto, pelo menos.
Ele pegou a mão dela e começou a descer com ela as escadas.
— Não podemos ir ainda — comentou Demi.
— É obvio que sim.
— Eu quero ver como entregam o prêmio a Margaret.
— Você vai me fazer sentar lá e engolir a cerimônia inteira?
Demi sorriu enquanto assentia devagar.
— Tudo bem, pode fazer que me sente e engula isso. — cedeu.
— Mas quando chegarmos em casa, vou assegurar-me de que você não possa se sentar por uma semana.
— Promessas, promessas — cantarolou Demi, inclinando-se sobre ele.
Entraram de novo na biblioteca de mãos dadas.
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Ei meninas como vocês estão, eu tava super sumida né e peço-lhes desculpa, por que fim de ano e meu vestiular ja ta batendo na porta, esse foi o fim da historia e espero que tenham gostado vou posta amanha uma sinopse da proxima,beijos.

Capítulo 43 Penúltimo


Capítulo 43 Penúltimo 


 Demi tinha passado na frente do Front Page Books, na esquina da rua quarta oeste uma infinidade de vezes e sabia que era uma das poucas livrarias independentes que ficavam em Manhattan. Nessa manhã, no seu caminho de volta a seu partamento, depois e passar quatro noites seguidas no do Joe, viu na vitrine um anúncio dos candidatos para o prêmio de ficção dos Young Lions, que incluía um dos títulos que ela tinha recomendado como finalista. Sentiu
que se tratava de um sinal e abriu a porta de vidro fazendo soar uma campainha. Um grande gato malhado laranja veio correndo e rodeou os pés. Demi se inclinou e acariciou a cabeça suavemente. O gato se esfregou contra suas pernas com a cauda erguida.
— Merlín, vem aqui — uma mulher o chamou atrás do balcão.
Usava uma camiseta e jeans e várias joias turquesa. Parecia jovem, não mais de trinta anos, embora tinha o cabelo quase cinza. — Sinto muito — disse para Demi. — Não sei o que lhe deu ultimamente. Depois de dez anos, de repente, saúda todos os clientes e nem todos desejam acrescentar esse complemento em particular a sua experiência de compras.
Ela veio e pegou o animal no colo, que ronronava com força.
— Posso te ajudar em alguma coisa? — perguntou, quase como se acabasse ocorre-lo.
Demi não sabia por que tinha entrado na loja, mas assim que a mulher perguntou se podia ajuda-la, a resposta foi óbvia.
— Perguntava-me se teria alguma vaga disponível.
— Possivelmente — respondeu a outra.— Tem experiência?
— Sou bibliotecária — afirmou Demi e gostou de dizê-lo.
— Oh, nossas pobres e atribuladas bibliotecas! — lamentou a mulher. — O que vamos fazer com todos esses cortes no financiamento? Sem bibliotecas não há livrarias. A história verá isto como a decadência de nossa civilização. Dizem que se julga a uma cultura por sua arte, não por sua política. Ou algo assim.
— Vi anúncio dos candidatos ao prêmio de ficção dos Young Lions na vitrine.
Não mencionou que tinha formado parte do comitê de seleção.
— Como se chama? — perguntou a mulher.
— Demetria— respondeu.
— Deixe-me o seu número de telefone, Demetria — pediu-lhe.
— Ligarei depois que eu tiver falado com meu sócio. Ou melhor ainda...
Deixou o Merlín no chão e retornou ao balcão. Indicou a Demi que a seguisse. Investigou numa gaveta e deu-lhe um cartão.
— Sou Lucy — disse. — Me envie por email o seu currículo.
— Genial — exclamou ela, tentando conter a excitação. —Farei isto. Obrigada!
Já na rua, voltou rapidamente para o seu apartamento. Só que tinha passado um tempo em casa durante as últimas duas semanas, mas tinha decidido que esse dia seria um dia de procurar emprego a sério e sentiu que Front Page Books era um começo prometedor.
Enviaria seu currículo para Lucy e se parecia um pouco ansiosa ao enviá-lo cinco minutos depois de seu encontro, que o parecesse. Sentia falta dos livros e desejava encontrar seu lugar entre eles. Como tinha tentado explicar ao Joe, isso não era só o que precisava, era o que desejava profundamente.
Subiu a escada esperando que Selena estivesse em casa. Não tinha falado com ela há dias.
— Oi, desaparecida — saudou a garota quando ela entrou no apartamento.
Sentiu uma pontada de culpa, porque Selena tinha mandado uma mensagem na noite anterior dizendo que a ligasse o mais rápido possível e Demi, que estava no cinema om Joe quan o o recebeu, esqueceu de lhe responder mais tarde.
— Olá — disse. — Sinto não ter respondido ontem à noite a sua mensagem. Estava no cinema e logo...
— Não continue — interrompeu Selena agitando a mão. — Só posso imaginar como são as coisas no ninho de amor do Joe. A propósito, sua mãe ligou umas vinte vezes.
Ela suspirou. Tinha evitando falar com sua mãe desde que a tinham despedido. Se lhe dissesse que não tinha trabalho, a campanha para fazê-la voltar para casa seria dolorosa e implacável.
— Sinto muito — desculpou-se.
— Sério dê a essa mulher seu número de celular ou eu o farei! — ameaçou-a Selena, movendo o dedo num gesto de fingido aviso.
E foi então que Demi se fixou no grande diamante que brilhava no dedo anelar da mão esquerda de sua companheira.
— Oh, meu Deus! — exclamou, atravessando a sala com alguns passos rápidos e agarrava a mão do Selena. — É isto o que eu acho que é?
A garota assentiu, sorrindo de orelha a orelha.
— Pediu-me ontem à noite. Por isso te mandei a mensagem.
Demi a puxou para levantá-la e a abraçou.
— Felicidades — disse e sentiu que enchiam os olhos de lágrimas de felicidade por sua companheira de apartamento.
Embora em seguida se sentiu envergonhada pelo pensamento tão egoísta que lhe cruzou a mente: nesses momentos não só não tinha trabalho, mas também provavelmente estava a ponto de ficar também sem casa. Soou telefone e soltou Selena para tirá-lo da bolsa.
— Me perdoa — se desculpou, — um segundo. Alo?
— Onde você está? — perguntou Joe. Soava levemente ansioso.
— Em meu apartamento. Por que?
— Pegue um táxi e se encontre comigo na Sessenta e seis com a Madison.
— Agora? Acabo de chegar — replicou, enquanto entrava no seu quarto e fechava a porta. Tirou o notebook. — E tenho que enviar um currículo...
— Não vai demorar muito. E depois te levarei de volta a seu apartamento se quiser.
— O que há na Sessenta e seis com a Madison?
— A boutique Gaultier.
Meneou a cabeça.
— E por que eu vou me encontrar com você na boutique Gaultier? — Porque acabo de encontrar o vestido perfeito para você — respondeu ele, como se fosse a resposta mais óbvia no mundo.
— Joe, não preciso de um vestido Gaultier. — Mesmo ela, apesar de sua total ignorância sobre moda, conhecia o Jean-Paul Gaultier e seus desenhos provocativos. Se não por outra coisa, por ser o desenhista da excursão da Madonna, a Loira Ambição, dos anos noventa.
— É obvio que precisa — repôs Joe— . O que vais vestir para a festa de gala dos Young Lions?
Demi afastou o telefone do ouvido e lançou um desgostado olhar que teria dirigido a le se tivesse estado e pé em frente dela. Logo voltou a aproxima-lhe. 
— Despediram-me, recorda?
— E? Mesmo assim virá como minha acompanhante, não? Agora coloca seu bumbum num táxi. Suspeito que a única coisa que pode ser mais sexy que você nua será você com este vestido.
Demi sorriu.
— Ok. Espere aí. Irei o mais rápido possível.
Desligou. E logo abriu o notebook para enviar o currículo.

                                                ***

Não era tanto um vestido como uma criação, um vestido de baile de fina renda preta até o chão. Com o pescoço fechado e pequenas mangas curtas, flertava com o conservadorismo, enquanto o corpo do vestido se ajustava como uma segunda pele terminando numa cascata de delicado renda a seus pés
— Super, ultra sexy não é? — perguntou o vendedor, um cara preto muito magro, chamado Marcel.
Usava o cabelo muito curto descolorido, quase branco, e os olhos delineados. Demi, com um interesse recém-descoberto pela maquiagem da sessão fotográfica, resistiu ao impulso de perguntar pela marca de seu lápis de olhos.
— Muito sexy — assentiu Joe.
Ela se olhou no espelho e não pôde estar mais de acordo. O vestido era assombroso e sentia como se estivesse sido feito para ela. Só havia um problema.
— É muito... isto... muito transparente — comentou, afirmando o óbvio.
— Poderia forrá-lo — comentou Marcel devagar. Entretanto, pela rápida careta de seus lábios deixou claro que o considerava um sacrilégio. — Embora quando o senhor Gaultier o mostrou na passarela, desejou ressaltar a transparência da renda.
Agarrou uma grande pasta com três argolas e a abriu numa página marcada, para mostrar uma foto do vestido no desfile de moda de outono do Gaultier. A modelo o usava com um sutiã e uma tanga vermelha por baixo.
— Oh, isso não vai acontecer — previu Demi. — Vamos a um evento social na biblioteca — assinalou deliberadamente olhando para Joe, como se este o tivesse esquecido.
Marcel assentiu, mais pormenorizado agora que via que a reticência da Demi se devia mais à ocasião que a incompetência no vestido.
— Se quer manter o look sem ser muito arriscada, pode usar um sutiã de meia taça e um calções de renda. Pode usa-lo em vermelho ou, se realmente quer ir pelo seguro, em preto.
Na insistência do Joe de que usasse sempre lingerie, e sua dedicação a proporcionar-lhe, Demi dispunha de um enorme sortido entre o que escolher. Poderia encontrar praticamente qualquer cor para por debaixo do vestido na sua coleção pessoal.
— Vermelhos — afirmou Joe sorridente.
— Pretos — replicou Demi, cruzando os braços.
Ele olhou para o Marcel.
— Arrematado.
                                             ***

Caminharam pela avenida Madison de mãos dadas. Passaram junto ao Barneys, Calvin Klein e Tod'S. Demi colocou bem a bolsa do Gaultier sobre o ombro. — Poderia ter comprado o vestido sem me fazer vir — comentou. Joe a olhou como se tivesse feito uma sugestão terrível.
— Sem que você o provasse primeiro?
— Isso não acostumava te deter antes — replicou ela.
— Está certo, aí me pegou. Só queria uma desculpa para ver você.
— Mas se sai do seu apartamento esta manhã!
— Exatamente — afirmou ele. — Transcorreu muito tempo.
Demi sorriu e negou com a cabeça. As mulheres que passavam olhavam para Joe e em seguida para ela. Demi nunca sabia se as pessoas o reconhecia pelas revistas e pelos sites de fofoca ou se simplesmente o consideravam bonito, talvez a imagem de duas pessoas loucamente apaixonadas bastava para chamar a atenção.
— Você tem certeza que é boa ideia que vá à festa de gala?— perguntou. — Blanda vai estar feito uma fera.
— A verdade é que não poderia me importar menos com o que Blanda pense e tampouco deveria importar a você. O único motivo pelo que não disse a ela exatamente o que penso sobre demitir você, é porque me implorou que não o fizesse.
— Eu me sentiria desconfortável— insistiu.
Joe se deteve e a olhou.
— Não será assim. Você tem tanto direito a estar alí como qualquer outro. Trabalhou nesse prêmio e deveria vive-lo. Demi sabia que tinha razão, não deveria importar o que Blanda pensasse. Já não trabalhava para ela. Aparecer na festa de gala poderia ser a melhor forma de deixar esse episódio para trás.
— Por outro lado — continuou Joe enquanto rodeava o rosto com as mãos e a beijava na boca. — Eu tenho que ir. Apresentarei o primeiro colocado.E se eu for, e você vai quero que esteja a meu lado.Sempre.
Aprofundou o beijo e Demi encostou seu corpo ao dele. Então soube exatamente por que as pessoas ficavam olhando.

Capítulo 42


Capítulo 42
                                         

Viu o Mercedes assim que saiu da biblioteca. Joe ia ao volante. Mesmo daquela distância sentiu seus olhos sobre ela enquanto descia a ampla escada. Quando se aproximou, saiu e lhe abriu a porta. Só o fato de vê-lo fez que se sentisse melhor. Foi a primeira vez desde que a tinham despedido que não sentiu o tremor do pânico. Joe lhe deu um rápido abraço antes que entrasse no carro.
Uma vez que estava ao volante, Demi disse:
— Te liguei antes, mas atendeu o correio de voz.
Ele assentiu enquanto entrava no trânsito intenso.
— Sinto muito, passei o dia todo trabalhando nas fotos que fizemos ontem à noite. Não queria que nada me distraísse. — Desviou os olhos do meio-fio o tempo suficiente para lhe dar um amplo sorriso.
— Como saíram? — perguntou nervosa.
— Vou levar você a meu apartamento para que as veja por si mesma — respondeu.
Sua excitação era evidente e contagiosa. Demi esboçou um leve sorriso.
— Está certo — acessou.
Joe apertou-lhe a mão.
— O que acontece? — perguntou.
Como podia saber que algo ia ruim? Tinha aspecto de ser alguém a quem acabavam de despedir?
— Bom, Blanda me despediu.
Joe riu.
— Ela não pode fazer isso.
— É obvio que pode — replicou Demi frustrada. — É minha chefe. Você nunca teve um trabalho normal das nove à cinco, por isso não o entende.
— Falarei com ela — disse com confiança, como se isso solucionasse tudo.
— Não! — exclamou envergonhada só de pensa-lo. — Por favor, não o faça. Embora pudesse obriga-la a que voltasse a me admitir, e o duvido, seria deprimente para mim. Só preciso... eixa-lo estar.
A quinta Avenida estava lotada com o trânsito da hora do rush.
Joe virou para o oeste.
— Não estou de acordo com você nisso — insistiu. — Quer recuperar o trabalho ou não?
— Não o entende Joe. Eu estraguei tudo. Eu queria este trabalho mais que qualquer coisa.
— Não fez nada que justifique sua demissão.
— É obvio que sim. A deixei ciumenta e logo dei uma desculpa para que me despedisse. Foi estúpido — reconheceu.
Voltava a sentir o nó na garganta.
— Mau manejo das relações de poder — reconheceu. — Lamenta ter saído comigo?
Demi negou com a cabeça.
— Não, nem por um minuto.
— Bom, se o fizesse, acredito que quando vir as fotos, mudaria de opinião.

                                            ***

Demi estava sentada na mesa de jantar de Joe, observando as fotografias. Apenas reconhecia à linda, segura e extremamente erótica criatura em branco e preto que lhe devolvia o olhar. Tinha tentado evocar o espírito do Bettie Page, mas era uma encarnação mais escura e perigosa. Cada foto parecia revelar uma camada diferente de si mesma e a sequência em que as tinha organizado Joe, criava uma poderosa progressão de dominação e desejo.
As fotografias eram perturbadoras e emocionantes ao mesmo tempo.
— Não posso acreditar — afirmou em voz baixa. 
— Eu sim — replicou ele, enquanto passava por trás dela e aparecia por cima de seu ombro de vez em quando. — Não te pressionei mais com o tema das fotografias para não te incomodar, nem tentar exercer nenhum tipo de controle, mas tinha a sensação de que o resultado seria algo especial. — Sentou-se a seu lado e pegou a mão dela. — E tinha razão.
— Há muitas fotos
— Sempre faço muitas durante uma sessão, o qual em si mesmo não é excepcional. Mas sim o é que todas sejam boas. Ou quase todas.
Às vezes só podem ser usadas umas poucas de cada sessão, por isso me permito muita menos flexibilidade. Mas o que temos aqui... é ouro. — E logo a olhou muito sério. — Não quero que se preocupe com nada. Nem por seu trabalho, nem por mim nem tampouco por nós.
Tomou o rosto entre as mãos e a olhou aos olhos com uma intensidade que exigiam o mesmo em troca. Demi sentiu a habitual pontada no estômago e nos olhos dele viu o onipresente desejo, mas também algo mais. Havia algo diferente em como a olhava e se deu conta de que, pela primeira vez, havia um elemento de admiração.
Joe baixou a cabeça e a beijou no pescoço, fazendo que sentisse um calafrio. Demi estremeceu e se inclinou para ele quando a rodeou com os braços. Encheu seus pulmões com seu perfume e sentiu que seu corpo se via alagado pelo desejo, apesar das persistentes dores da noite anterior.
Beijou-a na boca avidamente, como se tivessem estado separados durante semanas. Desabotoou o sutiã. Sua mão se deslizou sob a blusa para procurar os mamilos. Deixava-os eretos. Os acariciou uma e outra vez até que a Demi deixou escapou um leve gemido e só então abriu a blusa, tirando dela com tanta força que alguns botões saltaram e caíram ao chão com um leve tinido.
Seus lábios e sua língua se entretiveram nos seus seios, brincaram com os mamilos ao princípio e logo os sugaram tão forte que doeu. Demi ofegou com as mãos no seu cabelo, assombrada de que seu corpo fosse seu pior inimigo. Desejava-o descaradamente apesar da dor persistente que sentia, devido de como havia transado a menos de vinte e quatro horas. Mas notou a umidade entre suas pernas e se contorceu de desejo.
Joe se levantou e Demi sentiu o ar nos mamilos úmidos e machucados. Desviou as fotos com um tapa e a colocou sobre a mesa. Desabotoou a saia e a tirou, jogando-a ao chão junto com a calcinha.
— Venha para a beira — ordenou com uma voz cheia de desejo.
Ela se deslizou e as pernas ficaram pendurando na lateral da mesa. Joe se recostou na cadeira e as abriu. Então se inclinou para frente para lamber o sexo com a língua numa longa carícia. Demi gemeu e arqueou as costas e ele deslizou um dedo em seu interior.
— OH, meu Deus! — sussurrou ela.
Sua língua brincava sobre seus clitóris enquanto seu dedo entrava e saía. Demi puxou o seu cabelo enquanto seus quadris se moviam brusca e ritmicamente. Seu cérebro zumbia como um motor, com todos os pensamentos dispersos e sem sentido. Até o momento que ele subiu na mesa e sentiu que seu pênis tocava o seu sexo, ela já tremia toda, nervo puro que só poderia aplacar enchendo-a.
Ele abriu mais as pernas enquanto que apertava o bumbum quase freneticamente. Pensou que seguiria excitando-a, e sabia que se a fizesse esperar não seria capaz de suportar. Mas por sorte se afundou no seu interior e a sensação foi tão brusca e rápida que notou quase imediatamente como sua vagina se convulsionava, espremendo-o num orgasmo tão forte que experimentou um momento de pânico com a perda de controle.
Começou a gritar palavras sem sentido e ele murmurou algo em resposta, com o rosto perto do seu, até que suas próprias palavras se converteram num potente grito que a surpreendeu, enquanto que seu corpo tremia e ele investia numa amostra quase violenta de seu próprio êxtase. Depois, Joe se moveu até ficar deitado de barriga para cima sobre a dura mesa, com ela aconchegada junto a ele.
— Não vou poder caminhar — disse em tom de brincadeira.
— Eu te levarei — assegurou ele e a apertou com força.
E Demi soube que não estava brincando.

Capítulo 41


Capítulo 41
                                        

Demi se deteve no pé da escada da biblioteca e em seguida se virou para despedir-se de Joe com a mão. Ele abriu a janela do Mercedes e gritou:
— Venho te buscar às seis.
— Ok — ela respondeu e viu como o carro preto desaparecia entre o tráfego da Quinta Avenida. Sua mente flutuava com uma euforia que nunca tinha experimentado, mas seu corpo não sentia o mesmo tempo. Tudo lhe doía, as costas, os pés, os braços. O bumbum. Em frente ao leão de pedra Paciência, — ou era Integridade? — ajustou as sandálias de salto de tiras e a bolsa sobre o ombro, antes de iniciar a comprida subida até a porta de entrada.
Passava do meio-dia. Acordou com o alarme do telefone às sete, tinha ligado para Blanda e tinha deixado uma mensagem dizendo que não se encontrava bem e que iria um pouco mais tarde. A seguir, dormiu até as onze. Despertou sobressaltada, tomou o mais rápido duche de sua vida. Em seguida, Joe lhe mostrou o seu armário, onde encontrou uma blusa e uma saia da Prada com a etiqueta ainda posta. Vestiu-se rapidamente e, depois, ele dirigiu como um louco para deixa-la na biblioteca antes da hora do almoço. O saguão de entrada estava frio e silencioso. Demi inspirou fundo e disse que tudo ficaria bem. As pessoas ficam doentes. Tinha consultas médicas. Entrava mais tarde. Subiu com toda pressa a escada central com o cadeado saltando pesadamente contra seu pescoço. A porta do escritório de Blanda estava aberta e esta a viu imediatamente.
— Ah, olhe quem decidiu levantar-se da cama e nos honrar com sua presença — exclamou.
Demi engoliu em seco, consciente de que as palavras que sua chefe tinha escolhido não eram só uma frase de efeito, mas sim eram intencionais e, se por acaso ficava alguma dúvida, o desprezo de seus olhos azuis a apagou.
Blanda bateu na coxa bronzeada com a mão esquerda e o enorme diamante do anel refletiu a luz do teto. Demi se descobriu observando-o fascinada.
— Sinto muitíssimo — desculpou-se, obrigando a encará-la. —
Não voltará a acontecer. Agora já estou aqui e posso ficar até tarde...
Blanda olhou para seu pescoço e então ela se deu conta de que estava brincando com o cadeado. Imediatamente, baixou a mão.
— Você me decepcionou profundamente — disse a mulher com frieza. — Foi uma das melhores candidatas para o trabalho, mas sem dúvida não a única. A contratei não só por seu currículo acadêmico e as recomendações, mas também porque parecia o tipo de garota que daria prioridade a este trabalho acima de tudo. Que apreciaria...
— E o faço Blanda. Eu aprecio isto. Sonhei com este trabalho quase toda minha vida. Ele isso me motivou durante os quatro anos de carreira. E embora eu ter chegado tarde e faltado um dia, isso não é indicativo do quanto eu levo a sério as minhas tarefas aqui. Cumpri no balcão de empréstimos e o tenho feito bem. Estou comprometida cem por cento com o prêmio de ficção. Eu...
— Está despedida — interrompeu-a Blanda.
Demi a olhou chocada. Algo no rosto da outra mulher lhe disse o quanto estava feliz por ter uma desculpa para despedi-la e sua surpresa se converteu em fúria.
— Tudo isto é realmente por meu trabalho? — perguntou, com o rosto vermelho e o coração acelerado. — Ou tem a ver com seus sentimentos pelo Joe?
— Você pode culpar isso em qualquer coisa que queira. Mas continua demitida. Quanto a ele, não é um empregado remunerado desta biblioteca e eu sim. Eu contrato e demito conforme o considero conveniente. Se me puser a prova nisto, o lamentará.

                                                  ***

Selena retornou ao apartamento às quatro da tarde e deixou escapar um pequeno grito de surpresa quando encontrou Demi sentada no sofá.
— O que faz em casa? — perguntou.
Tinha as mãos tão cheias de sacolas que quase não pôde fechar a porta sem puxar alguma coisa. Demi, apesar de que ter tido várias horas para processar a horrível virada dos acontecimentos, não conseguiu responder à pergunta de sua companheira de apartamento. Seguia estupefata.
Depois que Blanda a despediu, ficou tão desconcertada que partiu sem recolher os livros que tinha guardado sob a mesa nem dizer adeus a Liam ou a Margaret.
Ao pensar na senhora lhe deu um nó na garganta. Lembrou-se que esta ia sair de qualquer maneira. E então, na espiral de colapso do seu estado de ânimo, pensou na festa de gala dos Young Lions que seria em duas semanas e que ela perderia. 
Todos os seus anos de esforço na faculdade, estudando em vez de ir a festas, fazendo recontagens de sua nota como se esses números fossem os blocos de construção de seu futuro, sonhando com o dia em que poderia encontrar um emprego numa biblioteca de verdade; os frios e chuvosos dias de março, quando ela foi fazer as entrevistas para a Biblioteca Pública de Nova Iorque; o perfeito dia de abril em que recebeu a chamada do departamento de Pessoal da mesma e que mudou a sua vida. Tudo o que havia foi para o inferno.
— Despediram-me — comunicou-lhe, com os olhos cheios de lágrimas.
Selena ficou surpresa, como deveria.
— Está de brincadeira — replicou. Uma típica resposta de Selena.
Abriu uma sacola do Whole Food e ofereceu uma espécie de muffin. Demi negou com a cabeça, tanto à oferta de comida como a seu comentário.
— Não, não estou brincando.
— Por que? O que aconteceu?
Selena se sentou no sofá.
Demi não sabia como responder a isso. "Oh, deitei-me com o ex-amante da minha chefe e cheguei atrasada no trabalho, em meio de uma névoa sexual..." — É uma longa história — disse.
— Eu escuto— insistiu Selena.
Seu celular tocou e, algo raro nela, o ignorou.
Demi respirou fundo.
— Cheguei atrasada algumas vezes.
Selena deu os ombros.
— E? Essas coisas acontecem.
— E aparentemente minha chefe e Joe tiveram... — deixou a frase sem terminar deliberadamente.
— Não! — exclamou Selena, inclinando-se para frente com os olhos arregalados.
— Sim.
— Não posso acreditar! Apareceu na minha porta toda quietinha, tímida e inocente. E agora, olhe para você. Está vestida para deixar qualquer um boquiaberto, está saindo com um dos caras mais sexys de Nova Iorque e tem mais drama na sua vida de ninguém a quem eu conheça...
— Acredito que se esquece do tema chave desta conversa: perdi meu emprego. Fiquei sem meu trabalho. Estou tentando não me deixar levar pelo pânico, mas mudei para Nova Iorque por esse trabalho.
Dependo dele. Não sei o que fazer.
— Em primeiro lugar, relaxe. Encontrará outro trabalho. Quer que ligue para algumas pessoas?
— Não ... eu não sei. Eu quero o trabalho que eu tinha. Eu queria ser uma bibliotecária desde que tenho uso da razão. Eu sei que parece insignificante para você e nada glamoroso, mas isto significa alguma coisa para mim.
A expressão de Selena se suavizou.
— Bem, ok. Se você acha que há alguma coisa que eu possa fazer, me diga. Quanto a seu aluguel, não se preocupe por ele. Sabe que eu não preciso do dinheiro. Só uma companheira de apartamento para que meus pais possam ser enganados pensando que não me meterei em problemas.
Demi a olhou surpreendida.
— Obrigado, Selena. Mas agora me sinto mal por não ter completado minha parte do trato, a de te manter afastada de problemas.
Sua companheira riu.
— Bom, isso sim seria um trabalho de tempo integral.
— Falo a sério, mas... obrigada. Embora não aceitarei seu oferecimento. Procurarei um emprego.
— O que disse Joe?
— Não contei ainda.
— Por que não? Ele poderia mover alguns fios por você em algum lugar.
Não disse porque não queria que parecesse que ia direto a ele quando se deparava com algum problema. Não se importava de mostrar-se indefesa no quarto. Mas na vida real era diferente. Como que antecipando o seu raciocínio, Selena acrescentou:
— Olha, eu entendo que você não quer que ele a veja num momento de fraqueza. E faz bem em não querer. Mas esse cara se importa de verdade. Soube na noite que apareceu aqui depois de sua briga. Demi assentiu.
— Sim, já sei que ele se importa. Durante um tempo, não tinha certeza, mas agora sim. Claro que tenho que dizer-lhe e o farei. Só precisava assimilar primeiro. — Olhou seu relógio. — Na verdade, ele vai me pegar em frente a biblioteca em uma hora. Não posso adiar mais.
Pegou seu iPhone e discou seu número. Caiu diretamente na caixa postal.
— Não responde. Vou ter que me encontrar com ele ali. Esperarei lá fora na frente dos leões.
— Os leões?
— Os leões de pedra ao pé da escada...
Selena negou com a cabeça.
— Eu não vou a bibliotecas Demi. E o digo a sério.
Apesar de sua intenção de se esconder na frente dos leões até que visse o carro do Joe, o metrô a deixou na biblioteca às cinco e quarenta e cinco e não podia ficar ali sem fazer nada todo esse tempo.
Decidiu que enquanto esperava falaria com Margaret.
Ela deu conta de que não tinha seu número de telefone e duvidava que a mulher utilizasse o correio eletrônico. Nem sequer sabia quando era seu último dia de trabalho e isso a fez perceber, em pânico, que talvez nunca iria vê-la novamente.
Sabia que era irracional, mas foi esse pensamento o que a fez subir a escada e entrar na biblioteca, arriscando-se a encontrar-se com Blanda.
Por um momento teve o pensamento paranoico de que os guardas de segurança lhe pediriam para sair, mas logo se lembrou que aquela era uma instituição pública e que não tinha sido presa, só a haviam demitido. O guarda de segurança que a saudava com um gesto da cabeça a cada manhã, provavelmente nem soubesse. E assim foi, porque lhe disse olá com a mão quando atravessou a toda pressa o saguão e subiu a escada até o quarto andar.
Demi passou junto à Sala Jonas e desviou o olhar. Se Blanda tivesse descoberto a libertinagem que tinha acontecido ali dentro, a teria despedido há semanas.
A porta da Sala de Arquivos estava aberta. Demi chamou para não sobressaltar a sua companheira. Quando não obteve resposta, entrou. 
— Margaret? — chamou de novo.
— Aqui.
Demi a encontrou subindo numa escada alta, colocando ou pegando um pesado livro numa estante.
— Tenha cuidado! Deixa que te ajude com isso — exclamou, enquanto se aproximava correndo.
A mulher olhou para baixo.
— O que está fazendo aqui? Tinha ouvido falar que você tinha sido praticamente escoltada até a rua — disse com um sorriso. 
Demi a olhou estupefata.
— Estou exagerando, é obvio — tranquilizou-a Margaret .— Mas já sabe como vão os boatos. — Desceu devagar da escada. — Nunca pensei que veria chegar o dia em que alcançar minhas prateleiras favoritas seria um problema que não compensaria a recompensa—comentou respirando com dificuldade. Sacudiu as mãos no vestido.
— Então, o que aconteceu, querida?
— Um desastre — começou ela, tentando conter as lágrimas que escapavam de vez em quando durante as últimas cinco horas. — Faltei um dia e em seguida cheguei tarde e.. acho que a verdadeira razão é que Blanda está com ciúmes da minha relação com Joe.
Margaret concordou.
— Tentei te avisar.
— Sei. Quando me disse do pingente.
— Tenho que reconhecer que não previ que chegaria a isto.
— Não sei o que fazer.
— Se precisar de uma recomendação, estarei encantada de te dar uma. Blanda pode ter sido a sua chefe, mas eu estive aqui o tempo suficiente para te poder abrir muitas portas. Talvez uma organização de alfabetização sem fins lucrativos?
— Oh Margaret. Você tem sido tão maravilhosa... — A mulher a rodeou com o braço e ela respirou profundamente várias vezes para acalmar-se. — Quando é seu último dia? — perguntou em seguida.
— Tinha medo de não poder me encontrar com você.
— Termino na sexta-feira da festa de gala dos Young Lions. Mas por que pensava que não poderia encontrar comigo? Sempre pode me encontrar no Twitter.
— No Twitter?
— Sim. Ou em meu novo blog de resenhas de livros.
— Abriu um blog de resenhas de livros?
Margaret confirmou e procurou um pedaço de papel e uma caneta.
Anotou seu número de telefone e o deu a Demi.
— Vejo você em breve. Deixa que as coisas acalmarem antes de tomar qualquer decisão sobre seu futuro. Às vezes, é melhor começar um novo capítulo.
— Mas você esteve no mesmo emprego durante cinquenta anos.
— Assim é, e se eu posso confrontar a mudança, você também
— afirmou a mulher com seus brilhantes olhos azuis e lhe apertou a mão. — Não é a mudança o que não posso confrontar, é o fracasso.
— Fracassou? Só o tempo pode revelar isso. Em um ano, dois anos, cinco, quem sabe como verá este momento. Poderia ser o ponto de inflexão para o resto de sua vida.